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Toxina Botulínica Terapêutica na Gravidez e Amamentação: desvendando mitos e potencializando a prática neurológica

  • Foto do escritor: Diego Dias Ramos Dorim
    Diego Dias Ramos Dorim
  • há 18 minutos
  • 5 min de leitura


A prática neurológica moderna nos desafia constantemente a buscar soluções eficazes e seguras para condições crônicas que afetam a qualidade de vida de nossos pacientes. Entre essas condições, a enxaqueca crônica se destaca, especialmente quando atinge mulheres em fases delicadas como a gravidez e a amamentação. A limitação de opções terapêuticas seguras, aliada ao medo de efeitos adversos, muitas vezes deixa tanto o médico quanto a paciente em um dilema.


É nesse cenário que a toxina botulínica tipo A emerge como uma ferramenta promissora e, conforme recentes evidências, segura. Mas como podemos navegar por esse campo com confiança e expertise?


O Grande Dilema: Enxaqueca Crônica, Gravidez e Amamentação

Sabemos que a enxaqueca pode piorar ou persistir durante a gravidez e o puerpério, impactando severamente a vida das pacientes. Muitas medicações profiláticas rotineiramente utilizadas são contraindicadas ou requerem cautela extrema, devido a riscos de malformações fetais, complicações gestacionais ou passagem para o leite materno. A interrupção abrupta do tratamento eficaz pode levar a uma recaída devastadora, comprometendo a saúde materna e, consequentemente, a do bebê.


Toxina Botulínica A: Um Farol de Esperança?

A OnabotulinumtoxinA é amplamente reconhecida por sua eficácia na profilaxia da enxaqueca crônica. Sua principal vantagem em contextos como a gravidez reside no seu mecanismo de ação localizado e mínima absorção sistêmica. Dada a sua grande estrutura molecular, a toxina tem uma dificuldade intrínseca de atravessar barreiras biológicas como a placenta e a glândula mamária. Mas o que as evidências reais nos dizem?


Desvendando a Segurança: O que as Pesquisas Recentes Revelam

Análises recentes de dados do mundo real, que incluem exposições à OnabotulinumtoxinA durante a gravidez para o tratamento de enxaqueca crônica, oferecem insights altamente encorajadores:


  1. Má Formação Fetal - Um Risco Não Comprovado: Estudos observacionais de grande escala, como a atualização do relatório de Hull, que acompanhou 126 gestações em mulheres tratadas com OnabotulinumtoxinA para enxaqueca crônica, não relataram casos de malformações fetais. Esta taxa é, inclusive, inferior à média da população geral. Embora estudos pré-clínicos em animais tenham mostrado efeitos adversos, estes ocorreram em doses muito superiores e fora do contexto terapêutico humano. A evidência acumulada sugere que o uso da toxina em doses terapêuticas não está associado a um aumento significativo no risco de defeitos congênitos.


  2. Aborto Espontâneo - Taxas Dentro do Esperado: A preocupação com o aborto é natural. No entanto, os mesmos estudos mostraram que as taxas de aborto espontâneo em pacientes que continuaram o tratamento com OnabotulinumtoxinA mantiveram-se dentro ou até abaixo das taxas observadas na população geral. Não há evidências que sugiram uma relação causal direta entre o uso da toxina e a ocorrência de abortos.


  3. A Crucial Recorrência da Enxaqueca - Um Alerta Médico: Este é talvez um dos pontos mais impactantes. As evidências demonstram que a descontinuação da OnabotulinumtoxinA em mulheres com enxaqueca crônica durante a gravidez ou puerpério leva a uma altíssima taxa de recaída da doença (até 90% em algumas coortes). Em contraste, pacientes que continuaram o tratamento mantiveram um controle excepcional da enxaqueca. Isso sublinha a importância de considerar a continuidade do tratamento para a saúde e o bem-estar da gestante, que, quando debilitada pela dor, pode ter sua capacidade de cuidar de si e do bebê seriamente comprometida.


  4. Amamentação - Segurança Reforçada: Embora os dados ainda sejam mais escassos, o consenso atual e os relatos de casos apontam para um risco mínimo ou inexistente para o lactente. A baixa absorção sistêmica e o grande tamanho molecular da OnabotulinumtoxinA sugerem uma transferência insignificante para o leite materno. Mulheres que amamentaram durante o tratamento não relataram eventos adversos em seus bebês.


Importantes Considerações e Limitações dos Estudos

É crucial notar que a maioria das evidências apresentadas deriva de estudos observacionais e revisões narrativas, e não de ensaios clínicos randomizados e controlados (RCTs). RCTs, embora o padrão ouro para determinar eficácia e segurança, são eticamente desafiadores de serem realizados em populações vulneráveis como gestantes. As limitações inerentes aos estudos observacionais incluem:


  • Viés de Seleção: As pacientes que optam por continuar o tratamento podem ter características diferentes (ex: enxaqueca mais grave, falha de outras terapias, maior tolerância ao risco) das que descontinuam.


  • Fatores de Confusão: Outras variáveis não controladas podem influenciar os resultados, dificultando a atribuição causal direta.


  • Tamanho da Amostra: Embora a coorte de Hull seja a maior para enxaqueca crônica, os números absolutos ainda são pequenos para descartar riscos extremamente raros.


  • Foco na Enxaqueca Crônica: Os resultados são mais robustos para esta indicação; a extrapolação para outras condições neurológicas tratadas com toxina botulínica deve ser feita com cautela e baseada em evidências específicas.


Um Alerta Importante

Este artigo visa puramente informar e analisar resultados promissores de pesquisas recentes. As informações aqui contidas não constituem aconselhamento médico ou diretrizes de prática clínica. A decisão de utilizar OnabotulinumtoxinA em pacientes grávidas ou em fase de amamentação deve ser sempre individualizada, baseada na avaliação clínica completa, no balanço risco-benefício para a paciente e o feto/bebê, e em conformidade com as diretrizes e regulamentações locais, sempre sob a responsabilidade e o discernimento do médico assistente. O NToxin não se responsabiliza por práticas clínicas assumidas com base nesta análise informativa.


Transforme sua Prática e Ofereça Cuidado de Excelência

As evidências nos fornecem um caminho mais claro e seguro para o manejo da enxaqueca crônica em pacientes grávidas e lactantes. No entanto, a aplicação terapêutica da toxina botulínica A em condições neurológicas requer conhecimento aprofundado em anatomia, fisiologia e técnicas de injeção precisas. A complexidade dos casos e a nuance na tomada de decisão exigem um profissional capacitado para otimizar resultados e garantir a segurança do paciente.


No NToxin, entendemos que a excelência na prática terapêutica com toxina botulínica A é construída sobre uma base sólida de conhecimento e experiência prática. Nossos cursos são desenhados para capacitá-lo a expandir seu escopo de atuação, oferecendo tratamentos eficazes e baseados em evidências, mesmo em cenários desafiadores como a gravidez e amamentação.


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Referências Bibliográficas


  1. Russo, A.; Iannone, L.F.; Orologio, I.; Rivi, V.; Boccalini, A.; Lo Castro, F.; Silvestro, M.; Guerzoni, S. Safety of Onabotulinumtoxin-A for Chronic Migraine During Pregnancy and Breastfeeding: A Narrative Review. Toxins 2025, 17, 192.

    doi.org


  2. Wong, H.T.; Khan, R.; Buture, A.; Khalil, M.; Ahmed, F. OnabotulinumtoxinA treatment for chronic migraine in pregnancy: An updated report of real-world headache and pregnancy outcomes over 14 years in Hull. Cephalalgia 2025, Vol. 45(5), 1–7.

    doi.org

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Diego Dias Ramos Dorim - Neurologista
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